06 Fev 2020

 

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)

 

A SOP é uma doença funcional multifacetada, em que ocorre uma série de disfunções nos sistemas endócrino, metabólico e reprodutivo. As principais características clínicas são o hiperandrogenismo em diferentes graus e a anovulação crônica.

O evento clássico dessa síndrome é a hipersecreção do hormônio luteinizante (LH), a qual leva à produção aumentada de androgênios, notadamente de testosterona. Ocorre, ainda, um retrocontrole hipotalâmico inadequado pelos hormônios ovarianos, gerando um intenso recrutamento e ativação folicular sem a devida atresia folicular, o que confere a morfologia policística aos ovários.

Essas pacientes apresentam resistência periférica à insulina e hiperinsulinemia compensatória, independente ou não da presença de obesidade. A elevação concomitante do LH e da insulina leva a uma hiperplasia tecal ovariana estimulando a produção de androgênios.

Além das disfunções endócrinas e metabólicas, existem evidências de um componente genético amplo na gênese da SOP, com um padrão complexo de hereditariedade envolvendo múltiplos genes, uma doença poligênica de penetrância incompleta. Existe uma ampla variedade de possíveis genótipos, o que explica os diferentes fenótipos encontrados na SOP e a dificuldade em se estabelecer um consenso em relação aos critérios de diagnóstico.

Para o diagnóstico devemos considerar a presença de pelo menos dois dos três critérios diagnósticos:

- Oligoamenorreia,
- Hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial,

- Morfologia ultrassonográfica de policistose ovariana.

Devem ser excluídas outras doenças que cursam com hiperandrogenismo.



O critério ultrassonográfico

(Teede HJ 2018) considera a presença de 20 ou mais folículos com diâmetro médio entre 2 e 9 mm e/ou volume ovariano total ≥ 10 cm³ em um ou em ambos os ovários. Se houver folículo maduro ou hidrópico, repetir o exame no início do ciclo seguinte, devido à interferência no cálculo do volume ovariano. Esse critério é referendado pelas entidades ASRM (Estados Unidos), ESHRE (Europa) e NHMRC (Austrália).

Lembrar que a contagem folicular ovariana é total e não em um único plano (mesmo protocolo de avaliação da reserva folicular). O 3D com extrusão folicular é mais eficaz do que o 2D para essa contagem.

Nas pacientes portadoras de ovários com padrão ecográfico de SOP e fenótipo não claramente hiperandrogênico, deve-se pesquisar outras causas de anovulação crônica, sendo as principais:

- Hiperprolactinemia,
- Anovulação hipotalâmica,
- Insuficiência ovariana prematura.

Fazer dosagens de prolactina, FSH e TSH. Lembrar que os valores de prolactina são normais na maioria das pacientes com SOP.



ATENÇÃO:

Para as adolescentes, os critérios são mais estritos, não sendo considerada a morfologia ovariana, e o hiperandrogenismo implica necessariamente a presença de hirsutismo ou de hiperandrogenemia.

O diagnóstico feito na adolescência deve ser revisto após oito anos da menarca.

Os ecografistas não devem fazer o diagnóstico de SOP em adolescentes. Referir apenas ovários com retenção folicular (aumentados ou não) de causa a esclarecer.

Essas informações são importantes para evitarmos diagnósticos superficiais e/ou incorretos de SOP nos exames ecográficos, sem atentarmos aos conceitos e aos critérios diagnósticos clínicos.

Prof. Dr. Luiz Antônio Bailão.
 

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FONTES:

1. Rosa-e-Silva ACJS. Síndrome dos ovários policísticos. Conceito, epidemiologia e fisiopatologia aplicada à prática clínica. Femina 2019;47(9):518-23.

2. Teede HJ, Misso ML, Costello MF, Dokras, A, Laven, J, Moran L, et al. International PCOS Netawork. Recommendations from the international evidence-based guideline for the assessment and management of polycystic ovary syndrome. Clin Endocrinol (Oxf). 2018;89(3):551-68.