01 Jul 2017
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Apresentaremos mais um caso clinico que ilustra bem a importância do rastreamento dos marcadores das síndromes e dos problemas congênitos do primeiro trimestre. Primigesta de 36 anos, gravidez espontânea de 13 semanas, exame ecográfico de rotina, aparentemente sem nenhuma condição que leve a suspeitar de problemas, apenas o risco relativo à idade.
Observe o feto em corte longitudinal, ele apresenta um edema subcutâneo generalizado com uma translucência nucal elevada. No perfil facial, podemos identificar o osso nasal e o ângulo facial. Veja o edema no tronco e observe, na segunda imagem, no corte transversal na altura do pescoço, a translucência aumentada e os seios jugulares dilatados (mais um marcador de anomalias). No corte axial, na altura das órbitas, observe aqui as duas órbitas com a distância interorbitária aumentada, um hipertelorismo.
No corte transversal do tórax, podemos ver o edema subcutâneo, as costelas e a efusão pleural bilateral. Na sequência das imagens, num outro corte longitudinal obliquo, não estamos vendo o perfil facial do feto, mas podemos vislumbrar o grande edema subcutâneo e a efusão pleural bilateral.
Podemos identificar, com o Doppler colorido abdominal, uma alteração no ducto venoso. Observe a veia umbilical dilatada dentro do fígado, terminando no vazio. Não há ducto venoso visível, e aqui está uma veia hepática muito calibrosa, drenando para a veia cava inferior. O registro Doppler espectral da veia hepática mostra uma alteração no perfil de onda, com uma onda A (contração atrial) apresentando fluxo reverso muito intenso, inclusive com velocidade maior do que a velocidade sistólica. O grande calibre da veia umbilical e da veia hepática indica pressão venosa aumentada no lado direito do coração. Esse fato provoca um aumento da pressão pulmonar, levando ao derrame pleural. O ducto venoso não identificado com 13 semanas, não quer dizer agenesia. Teríamos de reexaminar o feto com 22 semanas (vide as minhas aulas gravadas sobre Doppler no primeiro trimestre e sobre os marcadores do primeiro trimestre).
Na avaliação do esqueleto, identificamos osso nasal curto (menor do que 50% do nariz) e ossos longos curtos. Existem controvérsias quanto ao tamanho do osso nasal, temos trabalhos que mostram, que nesse período é importante a ausência do osso nasal e não o fato dele ser curto, mas outros trabalhos falam que osso nasal curto é importante.
Nesse ir e vir na anatomia e na biometria fetal, pudemos identificar várias alterações. As varreduras múltiplas são importantes para surpreender posições diferentes do feto e identificar detalhes diferentes. Tudo o que mostrei parece um pouco desordenado, mas é importante para aumentar a eficiência do exame.
Na hora de relatar, você deve fazer uma lista de tudo que foi visto, colocar uma ordem lógica, começando pela cabeça e pescoço, depois tórax, abdômen e membros, lembrando de falar do mapa vascular com esse aumento do calibre das veias, indicando uma hipertensão venosa e do Doppler espectral alterado. Descreva tudo que foi identificado.
O estudo da anatomia fetal mostra as seguintes alterações: microhigroma nucal (seios jugulares dilatados), translucência nucal elevada (7,5 milímetros), osso nasal curto, hipertelorismo, ângulo facial alterado, ducto venoso não identificado, pressão aumentada no átrio direito, hidropisia (derrame ou efusão pleural bilateral e edema subcutâneo generalizado) e ossos longos curtos. Na conclusão escrevo que as alterações fetais estão relacionadas com alto risco para anomalias cromossômicas e de evolução para insuficiência cardíaca e hidropisia fetal grave.
 
Se vocês quiserem mais detalhes sobre esse assunto, acessem nossa página em www.ultraeduc.com.br onde temos aulas sobre o estudo morfológico do primeiro trimestre (uma aula sobre o período embrionário, uma outra aula sobre os marcadores das síndromes fetais e uma terceira aula sobre o diagnóstico precoce das malformações), além de uma aula sobre o Doppler no primeiro trimestre da gravidez. Muito obrigado.